"No fim dar-te-ás conta de que o mínimo detalhe é sempre o mais importante"
Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
E quando a ficção sem querer imitou a realidade?
Não queria escrever dois artigos seguidos em que o tema cinema estivesse implícito, contudo por muito que não queira, não me sai da cabeça esta estranha coincidência!
Este sábado, refastelado no sofá, fazia zapping por entre os canais telecine, a ver se algum filme me interessava, parei no tvcine 2! Em exibição um filme Francês, ‘Cuidar dos Vivos’ e eu deixei-me ficar a ver, até porque teria começado há minutos.
E então, vou partilhar convosco o que o filme me mostrou, mas não poderei deixar de dizer o que na verdade eu vi e senti.
Em traços gerais, um jovem de 17 anos juntamente com dois amigos tiveram um gravíssimo acidente! Encaminhado ao hospital, este jovem é sujeito a uma panóplia de exames que culminam com o pior diagnóstico, morte cerebral irreversível! O telefone tocou em casa da mãe, a mesma que recorre imediatamente ao hospital, pelo caminho tenta ainda falar com o marido! No gabinete médico recebem em conjunto a triste notícia de que nada mais haveria a fazer. No entanto, sem tempo de se refazerem do choque, um médico tenta com as palavras mais fáceis num momento tão difícil, perceber se os pais autorizam a que os órgãos do jovem sejam doados a quem neste momento deles precisam! Após umas horas, em que o filme se desenrola fora do contexto hospitalar, os mesmos regressam e aceitam a doação a terceiros dos respetivos órgãos, com o único senão, de que os olhos deste fossem mantidos intactos.
É claro que do filme muito haveria a falar, existe a outra parte da história, mas essa fica para quem de vocês tiver curiosidade em ver!
Agora vou partilhar convosco o que eu vi na verdade e o que senti, pois inevitavelmente emocionei-me, ainda que… me tenha custado muito mais a realidade!
Numa manhã de sexta-feira no inicio de Julho, corria o ano de 2004, o telefone tocou em casa daquele casal, a mãe atendeu o telefone, onde lhe deram conta de que o filho com 21 anos, que já não vivia com eles tinha tido um acidente e estaria em estado muito grave num hospital da região parisiense.
Esta ligou com o marido, encontraram-se e rumaram ao hospital!
Esta mãe e este pai, a minha cunhada e o meu irmão, não imaginavam sequer o que lhes esperava, nem tão pouco a gravidade com que iriam encontrar o filho, o meu sobrinho!
Chegados ao hospital, imediatamente foram reencaminhados para o gabinete médico e pelo que nos contaram a conversa foi mais ao menos a mesma que pude assistir no filme!
O meu sobrinho estava numa situação irreversível, o acidente projetou-o pela janela do carro e assim que embateu com a cabeça no chão os danos foram de tal ordem que entrou imediatamente em coma, sendo que mais tarde no hospital perceberam que já estaria em morte cerebral!
Na mesma hora, no mesmo local, e como em França a lei dita que terá de haver uma autorização para que haja a doação dos órgãos, foram confrontados com essa possibilidade!
Eu acredito que não deva ser fácil, levo isto quase como após um choque tremendo que é perceber que o filho morreu, é gozar com a nossa cara virem com estas tretas! Pelo menos a quente não deve ser nada fácil entender e tomar uma decisão destas.
Ainda assim, os pais aceitaram doar os órgãos do meu sobrinho com a condição, reparem bem na coincidência, que não tocassem nos olhos do mesmo!
Não vi este filme de ânimo leve, para mim foi quase ver ali o meu irmão e a minha cunhada, até ao momento em que ambos se despedem do filho! Difícil de controlar as emoções.
Vi naqueles pais a dor deles, a mesma que presenciei nos dias seguintes, porque a família que pôde, em menos de 24 horas colocou-se lá, do lado deles, neste momento que foi para mim e continuará a ser dos maiores choques que levei na vida! Pois ali perdi um sobrinho que tinha para mim como mais do que um amigo, um irmão e depois, do lado de cá, em Portugal fui eu que recebi o telefonema, onde logo percebi que o pior havia acontecido!
São coincidências, eu sei, mas confesso que me deixou a pensar...